Era a primeira viagem de avião de Lirinha. O destino era bastante conhecido: a Cidade Maravilhosa. Ansioso, o gaúcho não parava de andar de um lado para o outro no Aeroporto Salgado Filho. Também conversava consigo mesmo e dizia que seria apenas mais uma apresentação; nada fora do comum para o trompetista. Antes de embarcar, se despediu dos fãs que o acompanhavam, pegou sua maleta e seu trompete e entrou na aeronave fazendo sinal da cruz.
Passadas duas horas de voo, Lirinha ainda não havia chegado. Estava nervoso e falava alto; questionava tudo e todos à procura de uma explicação – ele vira na internet que a duração era inferior a uma hora e meia. Preocupado, resolveu caminhar pelo avião e ir até a cabine do comandante. Por um descuido da aeromoça, o trompetista conseguiu entrar. Assustado com a gritaria, o piloto revirou os olhos e fez uma curva brusca com o avião, que derrubou imediatamente o gaúcho. Neste momento, um passageiro que vira o tumulto se levantou e tirou Lirinha dali, que continuava berrando, indignado. Acreditem ou não, depois disso, o jovem foi amarrado em um banco e só acordou na Polícia Federal do Rio de Janeiro.
Assustado, ele olhou para cima e viu olhares repreendedores de policiais com armas e cassetetes, que contaram que havia sido dopado, devido ao fato de ter ‘atacado’ o piloto do voo. Por causa disso, suspeitaram que Lirinha era um famoso autor de ataques terroristas bastante procurado pela América Latina, que estava descontrolado e perto de praticar mais um atentado. Como medida de precaução, foi dito que continuaria detido na carceragem da Polícia Federal até as investigações serem concluídas.
Embora negasse veementemente a acusação e clamasse por sua inocência, suas ações diziam o contrário: estava nervoso, deslocado e perdido. Alegou que agiu assim, pois era sua primeira viagem de avião e pensava que fosse morrer, logo queria conversar com os especialistas que administravam a aeronave. Em seguida, os policiais lhe mostraram a foto do criminoso e indagaram como Lirinha não era ‘aquele rapaz ali’. E foi então que tudo começou a fazer sentido.
O terrorista era irmão gêmeo do trompetista. Entretanto, vivia com o pai, na Venezuela, enquanto Lirinha morava com a mãe, no Brasil. Por terem crescido separados, não tiveram muito contato e pouco sabiam sobre o outro, além da inerente semelhança física. Nunca haviam se procurado e conheciam realidades de vida diferentes. Um era músico, e por sinal, bastante famoso; o outro fazia parte de um dos maiores tráficos de arma do mundo e integrava movimentos separatistas da região. Definitivamente, era uma coincidência quase impossível e que só poderia acontecer nesta história.
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