Impossível falar sobre essa doença com quem não sofre por causa dela ou não quer se importar com o assunto. As pessoas são egoístas demais para pensar na dor alheia. Em parte, eu entendo, porque é difícil nutrir empatia até mesmo por quem gostamos, então imagine só por aqueles que mal conhecemos. (!)
Se o outro nunca passou por um problema que lhe tira a vontade de viver, ele nunca vai entender. Esse ser humano pode até tentar chegar perto da resposta e do seu coração, mas nunca vai conseguir.
A maneira torta que essas pessoas buscam ajudar, sem nunca abrir mão de si mesmas, dói. Afinal, quem não tem depressão pode criticar esses “doentes” e acredita que precisa ensiná-los a viver melhor.
— Vá lá, faça aquilo! Não sonha em morar fora do país? Te vejo fazendo muito pouco por isso!
(...)
— Achei que fosse seu sonho... Mas você não luta por isso!
(...)
— Você poderia estar muito mais longe, ser fluente em cinco idiomas e com um intercâmbio pago para morar um semestre fora...
Vá, faça... Grande parte dos verbos utilizados por esses “entendedores” são na voz imperativa, como se fossem uma regra ou uma ordem e em algumas raras vezes, um conselho. Eles se esquecem que apesar de sermos muitos, nós, depressivos, ainda somos exceção — ou pelo menos é assim que nos enxergam.
Somos os anormais. Nossa genética falhou. Nascemos errados, sem serotonina suficiente e agora precisamos lidar com isso. Embora sejamos mais de 11 milhões somente no Brasil, estamos espalhados e lidamos com dores diferentes. Ao nosso redor, temos pessoas saudáveis, que não nos entendem.
Elas tentam nos motivar, é verdade. Porém, não lembram que nem isso é suficiente às vezes. Nós não sabemos do que precisamos. Tentamos fugir por momentos de prazer e de escapismo. Elas nos culpam por isso. Nos acham fracos.
— Mas como você sente isso? Qual a necessidade de sair e estar rodeada de pessoas? Isso é mais uma tentativa para se preencher internamente?
Elas não entendem. Se a resposta não for óbvia, não fazem questão de ajudar, pois estão preocupadas com seus próprios objetivos. Afinal, elas já estão no caminho certo, escolheram um rumo, enquanto nós continuamos perdidos...
Eu quero gritar para o mundo que essa “falta de vontade” não é culpa minha. Eu não escolhi isso e ainda não estou pronta para decidir os próximos capítulos da minha vida. No momento, estou tentando tapar os buracos do navio para não afundar de vez em uma profunda depressão.
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