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Tristeza nova-iorquina

Não foi New York que me deixou despedaçada, muito menos a saudade de passear pela Fifth Avenue e pelo Central Park. A grande responsável por isso foi a volta para a realidade. Foram as pessoas. Foi pior do que isso: foram eles, os “meus amigos”. 

Lembrar que eu não era feliz, pois estava rodeada de gente fingindo ouvir e se importar com algo do que eu falo foi duro. Em NY, não precisei de ninguém e todas as pessoas que conheci me fizeram sentir livre e leve. Todos fizeram eu me sentir especial, desde o porteiro do New York Times aos meus colegas de inglês. T o d o s.

NO EXCEPTION.

Este sentimento pode ter relação com a “mágica” inerente à cidade que nunca dorme: suas luzes e seus letreiros coloridos, suas sirenes e seus barulhos incessantes e, claro, aquele seu odor incomparável dos metrôs — o jeito New York de ser.

Apesar disso tudo, eu sabia que, na verdade, era eu quem tinha mudado. Eu era uma pessoa diferente em NY e estava rodeada de novos sentimentos, sensações e descobertas.

Sozinha.

Entretanto, nunca me senti solitária no meio da multidão da Times Square ou no silêncio do meu apartamento em frente à estação Pennsylvania Station — pelo contrário, a viagem foi um dos momentos que eu mais me senti inteira. E eu não me sentia assim há muito tempo, infelizmente. 

Abracei o desconhecido e vivi um dos melhores meses da minha vida.

Sozinha.

Em NY, nasceu e morreu uma pessoa muito mais feliz e independente — quase uma real New Yorker, que sofre para driblar a multidão apressada, tomar um belo café e entrar, por fim, no metrô. 

Pena que isso já faz um mês e agora já não posso mais me esconder da verdade. Preciso enfrentá-la, mas sair de casa e seguir minha rotina têm difícil. Impensável. Raro. Como New York.

(março de 2018)

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